IV- O Pecado



No princípio o homem vivia em estado de inocência e mantinha perfeita comunhão com Deus.1 Mas, cedendo à tentação de Satanás, num ato livre de desobediência contra seu Criador, o homem caiu no pecado e assim perdeu a comunhão com Deus e dele ficou separado.2 Em consequência da queda de nossos primeiros pais, todos somos, por natureza, pecadores e inclinados à prática do mal.3 Todo pecado é cometido contra Deus, sua pessoa, sua vontade e sua lei.4 Mas o mal praticado pelo homem atinge também o seu próximo.5 O pecado maior consiste em não crer na pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus, como salvador pessoal.6 Como resultado do pecado, da incredulidade e da desobediência do homem contra Deus, ele está sujeito à morte e à condenação eterna, além de se tornar inimigo do próximo e da própria criação de Deus.7 Separado de Deus, o homem é absolutamente incapaz de salvar-se a si mesmo e assim depende da graça de Deus para ser salvo.8

1 Gn 2.15-17; 3.8-10; Ec 7.29
2 Gn 3; Rm 5.12-19; Ef 2.12; Rm 3.23
3 Gn 3.12; Rm 5.12; Sl 51.5;  Is 53.6; Jr 17.5; Rm 1.18-27; 3.10-19; 7.14-25; Gl 3.22; Ef 2.1-3
4 Sl 51.4; Mt 6.14; Rm 8.7-22
5 Mt 6.14,15; 18.21-35; 1Co 8.12; Tg 5.16
6 Jo 3.36; 16.9; 1Jo 5.10-12
7 Rm 5.12-19; 6.23; Ef 2.5; Gn 3.18; Rm 8.22
8 Rm 3.20; Gl 3.10,11; Ef 2.8,9
.
.
.
CONFISSÃO DE FÉ WALDENSE - 1120 dC.
  1. Cremos e mantemos firmemente tudo o que está contido nos doze artigos do símbolo comumente chamado de Credo Apostólico, e consideramos herética qualquer inconsistência com eles.
  2. Cremos que há um só Deus - o Pai, Filho e Espírito Santo.
  3. Reconhecemos como Escrituras Sagradas e canônicas os livros da Bíblia Sagrada.
  4. Os livros acima mencionados nos ensinam: que há um DEUS, todo-poderoso, ilimitado em sabedoria, infinito em bondade, e que, em Sua bondade, fez todas as coisas. Porque Ele criou Adão à Sua própria imagem e semelhança. No entanto, por causa da inimizade do diabo e sua própria desobediência, Adão caiu, o pecado entrou no mundo, e nos tornamos transgressores em e por Adão.
  5. Cremos que Cristo havia sido prometido aos pais que receberam a lei, a fim de que, conhecendo seu pecado pela lei, e sua injustiça e insuficiência, pudessem desejar a vinda de Cristo para realizar a satisfação por seus pecados, e cumprir a Lei por Ele mesmo.
  6. Cremos que no tempo determinado pelo Pai, Cristo nasceu - em um tempo em que abundava a iniqüidade, para manifestar que não era devido à nossa bondade, porque éramos pecadores, mas para que Ele, que é verdadeiro pudesse mostrar Sua graça e misericórdia a nós.
  7. Que Cristo é nossa vida, verdade, paz e justiça - nosso pastor e advogado, nosso sacrifício e sacerdote, quem morreu pela salvação de todo aquele que crê, e que ressuscitou para a justificação deles.
  8. E também cremos firmemente que não há outro mediador, ou advogado para com Deus o Pai senão Jesus Cristo. Com respeito à Virgem Maria, ela era santa, humilde e plena de graça; e isto também cremos com relação a todos os outros santos, que estão esperando no céu a ressurreição de seus corpos no dia do juízo.
  9. Cremos também que, depois desta vida, existem apenas dois lugares - um para os que são salvos e outro para os condenados, os quais chamamos paraíso e inferno, respectivamente. Negamos por completo o purgatório imaginário do Anticristo, inventado para se opor à verdade.
  10. Ademais, sempre temos considerado todas as invenções [em matéria de religião] como uma abominação indizível diante de Deus; citamos os dias festivos e vigílias dos santos, a chamada "água benta", o abster-se de carnes em certos dias e outras coisas parecidas; porém, sobre tudo isso, citamos as missas.
  11. Mantemo-nos contra todas as invenções humanas, como procedentes do Anticristo, as quais produzem angústia e são prejudiciais para a liberdade da mente. [Provavelmente aqui temos uma alusão às penitências e práticas ascéticas - nota da versão espanhola]
  12. Consideramos os Sacramentos como sinais das coisas santas ou como emblemas das bênçãos invisíveis. Cremos que justo e também necessário que os crentes se utilizem desses símbolos ou formas, quando possível. No entanto, sustentamos que os crentes podem ser salvos sem esses sinais, quando não dispõem do lugar ou da oportunidade de observá-los.
  13. Não aprovamos outros sacramentos [como instrução divina], à parte do Batismo e da Ceia do Senhor.
  14. Honramos os poderes seculares, com sujeição, obediência, prontidão e impostos.
.
.
.
O CREDO DE LUTERO - 1530 dC.

Creio em Deus, que criou a mim e a todas as criaturas, que me deu e que sustenta meu corpo com todos os seus membros e meu espírito com todas as suas faculdades; que me provê abundantemente alimento diário, vestimenta, habitação e tudo o que é necessário para a vida. Que me ampara contra todo perigo e me protege e guarda de todo o mal; e tudo isso o faz sem qualquer mérito ou dignidade de minha parte, mas por sua pura bondade e sua divina misericórdia. E isto é, com toda certeza, a verdade.



Creio em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, que é meu Senhor. Que remiu a mim, perdido e condenado, libertando-me do pecado, da morte e do poder do maligno, não com ouro ou prata, mas com seu sangue e com seu sofrimento e pela sua morte inocente, para que lhe pertença para sempre e viva uma vida nova com Ele mesmo, que ressuscitado dentre os mortos, vive e reina eternamente. E isto é, com toda certeza, a verdade.



Creio que o Espírito Santo me chama pelo Evangelho, me ilumina com seus dons, me santifica, me mantém na verdadeira fé e na Igreja que Ele congrega de dia em dia. É Ele também quem perdoa plenamente meus pecados, assim como aos de todos os que crêem. É Ele quem, no ultimo dia, me ressuscitará dentre os mortos e me dará, com todos os fiéis em Cristo, a vida eterna. E isto é, com toda certeza, a verdade.
.
.
.
CONFISSÃO DE FÉ DA GUANABARA - 1558 dC.
XI. Cremos que pertence só à Palavra de Deus perdoar os pecados, da qual, como diz santo Ambrósio, o homem é apenas o ministro; portanto, se ele condena ou absolve, não é ele, mas a Palavra de Deus que ele anuncia.

Santo Agostinho, neste lugar diz que não é pelo mérito dos homens que os pecados são perdoados, mas pela virtude do Santo Espírito. Porque o Senhor dissera aos seus apóstolos: “recebei o Santo Espírito;” depois acrescenta: “Se perdoardes a alguém os seus pecados,” etc.

Cipriano diz que o servo não pode perdoar a ofensa contra o Senhor.
>>>> o restante do conteúdo
.
.
.
CONFISSÃO DE FÉ ESCOCESA - 1560 dC.
4º CAPÍTULO... Da Revelação da Promessa... Cremos firmemente que Deus, depois da tremenda e horrenda defecção de sua obediência feita pelo homem, procurou Adão, chamou-o a si, foi ter com ele, repreeendeu-o e convenceu-o do seu pecado e fez-lhe afinal a promessa gratuita e a mais grata de que a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente, isto é, destruiria as obras do Diabo. Essa promessa foi repetida e tornada cada vez mais clara com o correr do tempo; foi abraçada com firmeza e alegria por todos os fiéis, de Adão a Noé. Semelhantemente, de Noé a Abraão, de Abraão a Davi e assim por diante até a encarnação de Jesus Cristo; todos - isto é, os patriarcas crentes sob a lei - viram os dias agradabilíssimos de Cristo e se regozijaram.
1. Gn 3:9.
2. Gn 3:15.
3. Gn 12:3; 15:5-6; 2Sm 7:14; Is 7:14; 9:6; Os 2:6; Jo 8:56.

Artigo 5: As Fontes da Incredulidade e da Fé
A causa ou a responsabilidade por esta incredulidade, assim como por todos os outros pecados, não está de modo algum em Deus, mas no homem. A Fé em Jesus Cristo, entretanto, e a salvação através dele são um dom gratuito de Deus. Como dizem as Escrituras: Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus (Ef.2:8). Do mesmo modo: Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo... crer nele (Fl.1:29).


Hb.4:6; Ef.2:8; Fl.1:29
>>>conteúdo completo

.
.
.
OS CÂNONES DE DORDT - 1619 dC.
Artigo 1: O Direito de Deus de Condenar Todas as Pessoas
Desde que todas as pessoas têm pecado em Adão e estão sob a sentença de maldição e morte eterna, Deus não cometeria injustiça contra ninguém se fosse sua vontade deixar toda a raça humana em pecado e debaixo de maldição, e condená-la por causa do seu pecado. Como diz o apóstolo: todo o mundo seja condenável diante de Deus (Rm.3:19), Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Rm.3:23), e porque o salário do pecado é a morte (Rm.6:23).
Rm.5:12; Rm.3:19,23; Rm.6:23

A Corrupção Humana, a Conversão a Deus, e o Modo como Ocorre

Artigo 1: O Efeito da Queda na Natureza Humana
O homem originalmente foi criado à imagem de Deus e foi provido em sua mente com o verdadeiro e salutar conhecimento de seu Criador e das coisas espirituais, em sua vontade e coração com justiça, e em todas as suas emoções com pureza; de fato, todo o homem era santo. Contudo, rebelando-se contra Deus, pela instigação do Diabo, e por sua própria livre vontade, ele despojou a si mesmo destes destacados dons. Mais propriamente, em seu lugar trouxe sobre si mesmo cegueira, terrível escuridão, futilidades, e distorção de julgamento em sua mente; perversidade, rebeldia, e dureza em seu coração e em sua vontade; e finalmente impureza em todas as suas emoções.

Gn.1:26-27; Gn.3:1-7; Ef.4:17-19

Artigo 2: O Espalhar da Corrupção
O homem após a queda produziu filhos com a mesma natureza que a sua. O que quer dizer que, sendo corrupto produziu filhos corrompidos. A corrupção se espalhou, pelo justo julgamento de Deus, de Adão a todos os seus descendentes — excetuando somente a Cristo — não por meio de imitação (como em tempos anteriores entenderam os Pelagianos), mas por meio da propagação de sua natureza pervertida.

Jó 14:4; Sl.51:7; Rm.5:12; Hb.4:15

Artigo 3: Completa Inaptidão
Conseqüentemente, todas as pessoas são concebidas em pecado e nascem como filhas da ira, inadequadas para efetuar qualquer ação salvadora, inclinadas ao mal, mortas em pecados, e escravas do pecado; sem a graça do regenerador Espírito Santo elas não estão nem dispostas, nem são capazes de retornar a Deus, de transformar sua natureza distorcida, ou mesmo de preparar a si mesmas para tal transformação.

Ef.2:1,3; Jo.8:34; Rm.6:16-17; Jo.3:3-6; Tt.3:5

Artigo 4: A insuficiência da Luz da Natureza
Há, é verdade, certa luz de natureza ainda restante no homem depois da queda, e pela virtude dela ele retém algumas noções sobre Deus, sobre as coisas naturais, entende a diferença entre o que é moral e o que é imoral, e demonstra certa ânsia por virtude e por um bom comportamento exterior. Mas esta luz de natureza está longe de habilitar o homem a alcançar um conhecimento salvífico de Deus e a uma conversão a ele — tão longe, em verdade, que o homem não a usa corretamente nem mesmo em questões da natureza e da sociedade. Ao invés disto, de várias maneiras ele distorce completamente esta luz, tudo quanto é o seu preciso caráter, e a suprime em injustiça. E assim fazendo apresenta-se indesculpável diante de Deus.

Rm.1:18-20; At.2:14-15

Artigo 5: A Inadequação da Lei
A este respeito, o que é verdade para a luz da natureza é também verdade para os Dez Mandamentos que foram dados por Deus através de Moisés especificamente aos Judeus. Uma vez que o homem não pode obter graça salvadora através do Decálogo, porque, apesar dele expor a magnitude do seu pecado e progressivamente o convencer da sua culpa, no entanto, não oferece um remédio ou o habilita a escapar de sua miséria, e, em verdade, enfraquecido como está pela carne, deixa o ofensor sob a maldição.

Rm.3:19-20; Rm.7:10-13; Rm.8:3; II Co.3:6-7

Artigo 6: O Poder Salvífico do Evangelho
O que, entretanto, nem a luz da natureza nem a lei podem fazer, Deus realiza pelo poder do Espírito Santo, através da Palavra, ou seja, do ministério de reconciliação. Este é o evangelho do Messias, através do qual Deus se agradou em salvar os crentes, tanto no Velho quanto no Novo Testamento.

II Co.5:18-19; I Co.1:21

Artigo 7: A Soberania de Deus em Revelar o Evangelho
No Antigo Testamento, Deus revelou este mistério da sua vontade a um pequeno número [de pessoas]; no Novo Testamento (agora sem qualquer distinção entre pessoas) ele o revela a um grande número [de pessoas]. A razão para esta diferença não deve ser atribuída ao maior merecimento de uma nação sobre outra, ou a um melhor uso da luz da natureza, mas ao soberano bom propósito e ao imerecido amor de Deus. Conseqüentemente, aqueles que recebem tamanha graça, além e apesar de tudo que merecem, devem reconhecê-la com humildade e com corações gratos; e por outro lado, com o apóstolo devem respeitar (e certamente não em uma busca inquisitiva) a severidade e a justiça do julgamento de Deus sobre os outros, que não receberam esta graça.

Ef.1:9; Ef.2:14; Cl.3:11; Rm.2:11; Mt.11:25-26; Rm.11:22-23; Ap.16:7; Dt.29:29

Artigo 8: O Sério Chamado do Evangelho
Não obstante, todos os que são chamados através do evangelho são chamados seriamente. Porque seriamente e muito genuinamente Deus faz conhecida na sua Palavra o que lhe agrada: que aqueles que são chamados venham a ele. Seriamente ele também promete descanso para as suas almas e vida eterna a todos os que vêm a ele e crêem.

Is.55:1; Mt.22:4; Ap.22:17; Jo.6:37; Mt.11:28-29; Fl.1:29

Artigo 9: A Responsabilidade Humana por Rejeitar o Evangelho
O fato de que muitos dos que são chamados através do ministério do evangelho não vêm e não são trazidos à conversão não deve ser atribuído ao evangelho, nem a Cristo, que é oferecido através do evangelho, nem a Deus, o qual os chama através do evangelho e até mesmo lhes confere vários dons, mas às próprias pessoas que são chamadas. Alguns em autoconfiança nem mesmo acolhem a Palavra da vida; outros a acolhem, mas não a colocam no coração, e por esta razão, após a alegria transitória de uma fé temporária, eles recaem; outros sufocam a semente da Palavra com os espinheiros dos cuidados da vida e com os prazeres do mundo e não produzem frutos. Isto nosso Salvador ensina na parábola do semeador (Mt.13).

Mt.11:20-24; Mt.13:1-23; Mt.22:1-14; Mt.23:3

Artigo 10: A Conversão Como um Trabalho de Deus
O fato de que outros dos que são chamados através do ministério do evangelho vêm e são trazidos à conversão não deve ser creditado ao homem, como se alguém, por sua livre escolha, distinguisse a si mesmo dos outros que são favorecidos com igual ou suficiente graça para fé e conversão (como a orgulhosa heresia de Pelágio sustenta). Não, isto deve ser creditado a Deus: exatamente como da eternidade escolheu os seus em Cristo, assim no tempo efetivamente os chama, lhes concede fé e arrependimento, e, tendo-os resgatado do domínio das trevas, os traz para o reino de seu Filho; de modo que eles possam declarar os maravilhosos feitos daquele que os chamou das trevas para esta maravilhosa luz, e possam gloriar-se, não em si mesmos, mas no Senhor, como as palavras apostólicas frequentemente testificam nas Escrituras.

Rm.9:16; Cl.1:13; Gl.1:4; I Pe.2:9; I Co.1:31; II Co.10:17; Ef.2:8-9

Artigo 11: A Obra do Espírito Santo na Conversão
Além disso, quando Deus executa seu bom propósito em seus escolhidos, ou seja, quando opera a verdadeira conversão neles, não só cuida para que o evangelho lhes seja proclamado e que as suas mentes sejam poderosamente iluminadas pelo Espírito Santo de modo a que possam corretamente entender e discernir as coisas do Espírito de Deus, mas, pela efetiva operação do mesmo Espírito regenerador, ele também penetra no mais íntimo do ser humano, abre o coração fechado, amolece o coração duro e circuncida o coração que é incircunciso. Ele infunde novas qualidades na vontade, fazendo da vontade morta, viva, do maldoso, bom, do relutante, disposto, e do obstinado, submisso; ele ativa e fortalece a vontade para que, como uma boa árvore, possa ser capaz de produzir os frutos de boas obras.

Hb.6:4-5; I Co.2:10-14; Hb.4:12; At.16:14; Dt.30:6; Ez.11:19; Ez.36:26; Mt.7:18

Artigo 12: Regeneração, uma Obra Sobrenatural
E esta é a regeneração, a nova criação, a ressurreição dos mortos, e a vivificação, tão claramente proclamadas nas Escrituras, as quais Deus opera em nós sem nossa ajuda. Mas, isto certamente não acontece somente por ensino material, por persuasão moral, ou de tal maneira que após Deus ter feito sua obra, continua em poder do homem [a capacidade de decidir] se ele vai ou não ser renascido ou convertido. Ao contrário, é uma obra inteiramente sobrenatural, obra que é ao mesmo tempo poderosíssima e agradabilíssima, uma maravilha, misteriosa, e indescritível, que não é menor ou inferior em poder àquela da criação ou da ressurreição dos mortos, como a Escritura (inspirada pelo autor desta obra) ensina. Como resultado, todos aqueles em cujos corações Deus opera deste modo admirável são certamente, infalivelmente, e efetivamente renascidos e verdadeiramente crêem. E então a [sua] vontade, agora renovada, não é somente ativada e motivada por Deus, mas ao ser ativada por Deus torna-se ativa em si mesma. Por esta razão, o próprio homem, através desta graça que recebeu, também diz corretamente que creu e se arrependeu.

Jo.3:3; II Co.4:1-6; II Co.5:17; Ef.5:14; Jo.5:25; Rm.4:17; Fl.2:13

Artigo 13: O Incompreensível Mecanismo da Regeneração
Nesta vida os crentes não podem entender completamente o mecanismo pelo qual esta obra ocorre; entretanto, eles ficam satisfeitos em saber e experimentar que por esta graça de Deus eles creram em seu Salvador com o coração e com amor.

Jo.3:8; Rm.10:9

Artigo 14: O Modo como Deus Dá Fé
Deste modo, portanto, fé é um dom de Deus, não no sentido de que é oferecida por Deus para que o homem a escolha, mas que é de fato aplicada ao homem, inspirada e infundida nele. Nem é um dom no sentido de que Deus confere somente o potencial para crer, e então espera assentimento — o ato de crer — de acordo com a escolha do homem; ao contrário, é um dom no sentido de que aquele que opera tanto o querer quanto o efetuar, e em verdade opera todas as coisas em todas as pessoas, produz no homem tanto o querer crer quanto o próprio [ato de] crer.

Ef.2:8; Fl.2:13

Artigo 15: Respostas à Graça de Deus
Esta graça Deus não deve a ninguém. Pois o que Deus poderia dever a alguém que não tem nada para dar que possa ser devolvido? Em verdade, o que Deus poderia dever a alguém que não tem nada de seu além de pecado e falsidade? Por esta razão a pessoa que recebe a graça deve e [de fato] rende eterna gratidão somente a Deus; a pessoa que não a recebe, ou de todo não liga para estas coisas espirituais e está satisfeita consigo mesma nesta condição, ou então em autoconfiança exulta tolamente de que é pouco o que lhe falta. Além disso, seguindo o exemplo dos apóstolos, nós devemos pensar e falar do modo mais favorável sobre aqueles que externamente professam sua fé e melhoram suas vidas, porque a câmara interior do coração nos é desconhecida. Mas, pelos outros, que ainda não foram chamados, nós devemos orar a Deus que chama coisas que não existem à existência. Todavia, de modo algum, devemos nos assoberbar como se fossemos melhores que eles, como se nós tivéssemos distinguido a nós mesmos deles.

Rm.11:35; Am.6:1; Jr.7:4; Rm.14:10; Rm.4:17; I Co.4:7

Artigo 16: Efeito da Regeneração
Porém, tal como pela queda o homem não deixou de ser homem, dotado de intelecto e vontade, e tal como o pecado, que foi propagado a toda a raça humana, não aboliu a natureza da raça humana, mas a distorceu e a matou espiritualmente, assim também esta graça divina da regeneração não age nas pessoas como se elas fossem tijolo e cimento; nem anula a vontade e suas propriedades ou coage uma vontade relutante pela força, mas revive espiritualmente, cura, reforma, e — de uma forma ao mesmo tempo prazerosa e poderosa — a converte. Como resultado, uma obediência pronta e sincera ao Espírito agora começa a prevalecer onde antes a rebelião e a resistência da carne foram completamente dominantes. É nisto que a verdade e a restauração espiritual e a liberdade da nossa vontade consistem. Desta forma, se o maravilhoso Criador de todas as boas coisas não estivesse lidando conosco, o homem não teria esperança de se levantar de sua queda por sua própria livre escolha, através da qual ele mergulhou a si mesmo em ruína, quando ainda estava em pé.

Rm.8:2; Ef.2:1; Sl.51:12; Fl.2:13

Artigo 17: O Uso de Deus dos Mecanismos de Regeneração
Tal como a poderosa obra de Deus pela qual ele faz brotar e sustenta nossa vida natural, não exclui, mas requer o uso de meios pelos quais Deus, de acordo com sua infinita sabedoria e bondade, tem exercitado seu poder, assim também a obra de Deus citada anteriormente, pela qual ele nos restaura, de modo algum exclui ou cancela [a necessidade] do uso do Evangelho, o qual Deus em sua grande sabedoria designou para ser a semente da regeneração e o alimento da alma.

Por esta razão, os apóstolos e os professores que piedosamente os seguiram ensinavam ao povo sobre esta graça de Deus, para dar glória a ele e para humilhar todo o orgulho humano; não negligenciando, neste meio tempo, o manter o povo através das santas admoestações do evangelho, sob a ministração da Palavra, das coisas sagradas, e da disciplina. Assim, mesmo hoje, está fora de questão que os professores ou os que são ensinados na igreja conjeturarem testar Deus separando o que ele, em seu bom propósito, deseja que esteja estritamente unido. Porque a graça é concedida através das admoestações, e quanto mais prontamente nós fizermos nosso dever, usualmente, tanto mais resplandecerão em nós os benefícios da obra de Deus e melhor sua obra [em nós] avançará. A ele somente, tanto pelos meios quanto por seus frutos salvíficos e [por sua] efetividade, toda a glória seja devida eternamente. Amém.

Is.55:10-11; I Co.1:21; Tg.1:18; I Pe.1:23,25; I Pe.2:2; At.2:42; II Co.5:11-21; II Tm.4:2; Rm.10:14-17; Jd.24-25

Rejeição de Erros (III/IV)

Tendo sido exposta a doutrina ortodoxa, o Sínodo rejeita os erros daqueles que:

I

Ensinam que, propriamente falando, não pode ser dito que o pecado original em si é o bastante para condenar toda a raça humana ou para garantir punição temporal e eterna.

Porque eles contradizem o apóstolo quando diz: Como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram (Rm.5:12); também: Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação (Rm.5:16); igualmente: O salário do pecado é a morte (Rm.6:23).

II

Ensinam que os dons espirituais ou as boas inclinações e virtudes, tais como a bondade, a santidade, e a justiça podem não ter residido na vontade do homem quando ele foi primeiramente criado e, portanto, não poderiam ter sido separadas da [sua] vontade na queda.

Porque isto entra em conflito com a descrição do apóstolo da imagem de Deus em Efésios 4:24, onde ele retrata a imagem em termos de justiça e santidade, as quais definitivamente residem na vontade.

III

Ensinam que na morte espiritual os dons espirituais não foram separados da vontade do homem, uma vez que a vontade em si nunca teria sido corrompida, mas somente impedida pelas trevas da mente e pelo desgoverno das emoções. E como a vontade seria capaz de exercitar sua capacidade inata livremente desde que estes impedimentos fossem removidos. O que quer dizer, que ela seria capaz, por si mesma, de desejar ou escolher o que de bom é colocado diante dela — ou ainda de não desejá-lo ou escolhê-lo.

Esta é uma nova idéia e um erro e tem o efeito de ao elevar o poder da livre escolha, contrariar as palavras de Jeremias o profeta: Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso (Jr.17:9); e as palavras do apóstolo: Entre os quais (os filhos da desobediência) todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos (Ef.2:3).

IV

Ensinam que o homem não regenerado não está estritamente ou totalmente morto em seus pecados e [não] está privado de toda a capacidade para fazer o bem espiritual, mas é capaz de sentir fome e sede de justiça ou de vida, e de oferecer o sacrifício de um espírito quebrantado e contrito, o qual é agradável a Deus.

Porque estes pontos de vista são opostos ao claro testemunho das Escrituras: Estando vós mortos em ofensas e pecados (Ef.2:1, 5); A imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente (Gn.6:5; 8:21). Além disto, ter fome e sede por libertação da miséria e por vida, e o oferecer a Deus em sacrifício um espírito quebrantado são características somente dos regenerados e daqueles chamados bem-aventurados (Sl.51:17; Mt.5:6).

V

Ensinam que o homem natural e corrompido pode fazer um tão bom uso da graça comum (pelo que eles querem dizer a luz da natureza) ou dos dons restantes após sua queda que é capaz por meio disto de gradualmente obter uma graça maior — a graça evangélica ou salvífica — bem como a própria salvação; e que deste modo Deus, de sua parte, se mostra pronto a revelar Cristo a todas as pessoas, uma vez que ele provê para todos, em quantidade suficiente e de modo efetivo, os meios necessários para a revelação de Cristo, por fé, e por arrependimento.

Porque a Escritura, para não mencionar a experiência de todas as épocas, testifica que isto é falso: [Deus] mostra a sua palavra a Jacó, os seus estatutos e os seus juízos a Israel. Não fez assim a nenhuma outra nação; e quanto aos seus juízos, não os conhecem (Sl.147:19-20); O qual nos tempos passados deixou andar todas as nações em seus próprios caminhos (At.14:16); [Paulo e seus companheiros] foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia. E, quando chegaram a Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o Espírito não lho permitiu (At.16:6-7).

VI

Ensinam que na verdadeira conversão do homem novas qualidades, inclinações, ou dons não podem ser infundidos ou derramados sobre a sua vontade por Deus. E, em verdade, a fé, ou o crer, pelo qual nós primeiro viemos à conversão e pelo qual recebemos o nome de "crentes" não é uma qualidade ou dom dado por Deus, mas somente um ato humano, e que não pode ser chamado de dom exceto no que diz respeito ao poder de alcançar fé.

Porque estes pontos de vista contradizem as Sagradas Escrituras, as quais testificam que Deus infunde ou derrama nos nossos corações as novas qualidades de fé, obediência, e a experiência do seu amor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração (Jr.31:33); derramarei água sobre o sedento, e rios sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade (Is.44:3); o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm.5:5). Eles também entram em conflito com a contínua prática da Igreja, que ora com o profeta: converte-me, e converter-me-ei, porque tu és o SENHOR meu Deus (Jr.31:18).

VII

Ensinam que a graça pela qual somos convertidos a Deus não é nada mais do que uma gentil persuasão, ou (como outros a explicam) a forma de Deus agir na conversão do homem, a qual é a mais nobre e apropriada à natureza humana, é aquela que acontece através da persuasão, e nada impede que esta graça de convencimento moral possa, por si só, tornar os homens espirituais; em verdade, Deus não produz o consentimento da vontade exceto através de convencimento moral, e que a eficácia da obra de Deus através qual ele sobrepuja a obra de Satanás consiste em que Deus promete benefícios eternos enquanto Satanás promete benefícios temporais.

Porque este ensino é inteiramente Pelagiano, e contrário a toda a Escritura, que reconhece além da persuasão também outro meio, muito mais efetivo e divino pelo qual o Espírito Santo age na conversão do homem. Como Ezequiel 36:26 coloca: Dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne...

VIII

Ensinam que Deus ao regenerar o homem não ostenta aquele poder de sua onipotência com o qual ele pode poderosa e infalivelmente dobrar a vontade humana para a fé e a conversão. E que mesmo quando Deus já efetuou todas as operações da graça que ele usa para a conversão do homem, não obstante o homem pode assim resistir a Deus e ao Espírito em seu intento e vontade de regenerá-lo (e de fato frequentemente o faz), de modo que o homem completamente frustra seu próprio renascimento; e, de fato, permanece em seu próprio poder se será ou não regenerado.

Porque isto anula todo o efetivo funcionamento da graça de Deus em nossa conversão e sujeita a atividade do Deus Todo-Poderoso à vontade do homem; é contrário aos apóstolos, que ensinam que nós cremos pela virtude da efetiva ação da força do poder de Deus (Ef.1:19), e que Deus executa o imerecido bom propósito de sua bondade e a obra da fé em nós com poder (II Ts.1:11), e do mesmo modo que seu divino poder tem nos dado tudo que precisamos para vida e piedade (II Pe.1:3).

IX

Ensinam que a graça e a livre escolha são causas parciais simultâneas que cooperam para iniciar a conversão, e que a graça não precede — na ordem de causa e efeito — a efetiva influência da vontade; o que quer dizer, que Deus não ajuda efetivamente a vontade do homem a vir à conversão, antes a própria vontade do homem motiva e determina a si mesma.


Porque a igreja primitiva já condenou esta doutrina há muito tempo com os Pelagianos, com base nas palavras do apóstolo: Isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece (Rm.9:16); também: Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? (I Co.4:7); igualmente: Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade (Fl.2:13).
>>>conteúdo completo