V- Salvação



A salvação é outorgada por Deus pela sua graça, mediante arrependimento do pecador e da sua fé em Jesus Cristo como único Salvador e Senhor.1 O preço da redenção eterna do crente foi pago de uma vez por Jesus Cristo, pelo derramamento do seu sangue na cruz.2 A salvação é individual e significa a redenção do homem na inteireza do seu ser.3 É um dom gratuito que Deus oferece a todos os homens e que compreende a regeneração, a justificação, a santificação e a glorificação.4

1 Sl 37.39; Is 55.5; Sf 3.17; Tt 2.9-11; Ef 2.8,9; At 15.11; 4.12
2 Is 53.4-6; 1Pe 1.18-25; 1Co 6.20; Ef 1.7; Ap 5.7-10
3 Mt 16.24; Rm 10.13; 1Ts 5.23,24; Rm 5.10
4 Rm 6.23; Hb 2.1-4; Jo 3.14; 1Co 1.30; At 11.18
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CREDO DE ATANÁSIO - 360 dC., Sec.IV, V, VI, VIII
  1. Todo aquele que quiser ser salvo, é necessário acima de tudo, que sustente a fé universal.
  2. A qual, a menos que cada um preserve perfeita e inviolável, certamente perecerá para sempre.
  3. Mas a fé universal é esta, que adoremos um único Deus em Trindade, e a Trindade em unidade.
  4. Não confundindo as pessoas, nem dividindo a substância.
  5. Porque a pessoa do Pai é uma, a do Filho é outra, e a do Espírito Santo outra.
  6. Mas no Pai, no Filho e no Espírito Santo há uma mesma divindade, igual em glória e co-eterna majestade.
  7. O que o Pai é, o mesmo é o Filho, e o Espírito Santo.
  8. O Pai é não criado, o Filho é não criado, o Espírito Santo é não criado.
  9. O Pai é ilimitado, o Filho é ilimitado, o Espírito Santo é ilimitado.
  10. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno.
  11. Contudo, não há três eternos, mas um eterno.
  12. Portanto não há três (seres) não criados, nem três ilimitados, mas um não criado e um ilimitado.
  13. Do mesmo modo, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente.
  14. Contudo, não há três onipotentes, mas um só onipotente.
  15. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus.
  16. Contudo, não há três Deuses, mas um só Deus.
  17. Portanto o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, e o Espírito Santo é Senhor.
  18. Contudo, não há três Senhores, mas um só Senhor.
  19. Porque, assim como compelidos pela verdade cristã a confessar cada pessoa separadamente como Deus e Senhor; assim também somos proibidos pela religião universal de dizer que há três Deuses ou Senhores.
  20. O Pai não foi feito de ninguém, nem criado, nem gerado.
  21. O Filho procede do Pai somente, nem feito, nem criado, mas gerado.
  22. O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, não feito, nem criado, nem gerado, mas procedente.
  23. Portanto, há um só Pai, não três Pais, um Filho, não três Filhos, um Espírito Santo, não três Espíritos Santos.
  24. E nessa Trindade nenhum é primeiro ou último, nenhum é maior ou menor.
  25. Mas todas as três pessoas co-eternas são co-iguais entre si; de modo que em tudo o que foi dito acima, tanto a unidade em trindade, como a trindade em unidade deve ser cultuada.
  26. Logo, todo aquele que quiser ser salvo deve pensar desse modo com relação à Trindade.
  27. Mas também é necessário para a salvação eterna, que se creia fielmente na encarnação do nosso Senhor Jesus Cristo.
  28. É, portanto, fé verdadeira, que creiamos e confessemos que nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é tanto Deus como homem.
  29. Ele é Deus eternamente gerado da substância do Pai; homem nascido no tempo da substância da sua mãe.
  30. Perfeito Deus, perfeito homem, subsistindo de uma alma racional e carne humana.
  31. Igual ao Pai com relação à sua divindade, menor do que o Pai com relação à sua humanidade.
  32. O qual, embora seja Deus e homem, não é dois, mas um só Cristo.
  33. Mas um, não pela conversão da sua divindade em carne, mas por sua divindade haver assumido sua humanidade.
  34. Um, não, de modo algum, pela confusão de substância, mas pela unidade de pessoa.
  35. Pois assim como uma alma racional e carne constituem um só homem, assim Deus e homem constituem um só Cristo.
  36. O qual sofreu por nossa salvação, desceu ao Hades, ressuscitou dos mortos ao terceiro dia.
  37. Ascendeu ao céu, sentou à direita de Deus Pai onipotente, de onde virá para julgar os vivos e os mortos.
  38. Em cuja vinda, todos os homens ressuscitarão com seus corpos, e prestarão conta de suas obras.
  39. E aqueles que houverem feito o bem irão para a vida eterna; aqueles que houverem feito o mal, para o fogo eterno.
  40. Esta é a fé Universal, a qual a não ser que um homem creia firmemente nela, não pode ser salvo.
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CONFISSÃO DE FÉ WALDENSE - 1120 dC.
  1. Cremos e mantemos firmemente tudo o que está contido nos doze artigos do símbolo comumente chamado de Credo Apostólico, e consideramos herética qualquer inconsistência com eles.
  2. Cremos que há um só Deus - o Pai, Filho e Espírito Santo.
  3. Reconhecemos como Escrituras Sagradas e canônicas os livros da Bíblia Sagrada.
  4. Os livros acima mencionados nos ensinam: que há um DEUS, todo-poderoso, ilimitado em sabedoria, infinito em bondade, e que, em Sua bondade, fez todas as coisas. Porque Ele criou Adão à Sua própria imagem e semelhança. No entanto, por causa da inimizade do diabo e sua própria desobediência, Adão caiu, o pecado entrou no mundo, e nos tornamos transgressores em e por Adão.
  5. Cremos que Cristo havia sido prometido aos pais que receberam a lei, a fim de que, conhecendo seu pecado pela lei, e sua injustiça e insuficiência, pudessem desejar a vinda de Cristo para realizar a satisfação por seus pecados, e cumprir a Lei por Ele mesmo.
  6. Cremos que no tempo determinado pelo Pai, Cristo nasceu - em um tempo em que abundava a iniqüidade, para manifestar que não era devido à nossa bondade, porque éramos pecadores, mas para que Ele, que é verdadeiro pudesse mostrar Sua graça e misericórdia a nós.
  7. Que Cristo é nossa vida, verdade, paz e justiça - nosso pastor e advogado, nosso sacrifício e sacerdote, quem morreu pela salvação de todo aquele que crê, e que ressuscitou para a justificação deles.
  8. E também cremos firmemente que não há outro mediador, ou advogado para com Deus o Pai senão Jesus Cristo. Com respeito à Virgem Maria, ela era santa, humilde e plena de graça; e isto também cremos com relação a todos os outros santos, que estão esperando no céu a ressurreição de seus corpos no dia do juízo.
  9. Cremos também que, depois desta vida, existem apenas dois lugares - um para os que são salvos e outro para os condenados, os quais chamamos paraíso e inferno, respectivamente. Negamos por completo o purgatório imaginário do Anticristo, inventado para se opor à verdade.
  10. Ademais, sempre temos considerado todas as invenções [em matéria de religião] como uma abominação indizível diante de Deus; citamos os dias festivos e vigílias dos santos, a chamada "água benta", o abster-se de carnes em certos dias e outras coisas parecidas; porém, sobre tudo isso, citamos as missas.
  11. Mantemo-nos contra todas as invenções humanas, como procedentes do Anticristo, as quais produzem angústia e são prejudiciais para a liberdade da mente. [Provavelmente aqui temos uma alusão às penitências e práticas ascéticas - nota da versão espanhola]
  12. Consideramos os Sacramentos como sinais das coisas santas ou como emblemas das bênçãos invisíveis. Cremos que justo e também necessário que os crentes se utilizem desses símbolos ou formas, quando possível. No entanto, sustentamos que os crentes podem ser salvos sem esses sinais, quando não dispõem do lugar ou da oportunidade de observá-los.
  13. Não aprovamos outros sacramentos [como instrução divina], à parte do Batismo e da Ceia do Senhor.
  14. Honramos os poderes seculares, com sujeição, obediência, prontidão e impostos.
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CONFISSÃO DE FÉ VALDENSE - 1544 dC.

  1. Cremos que há somente um Deus, que é Espírito - o Criador de todas as coisas - o Pai de todos, que está acima de tudo, e em tudo, e em todos nós; que deve ser cultuado em espírito e em verdade - de quem nós somos continuamente dependentes, e a quem damos louvor por nossa vida, alimento, vestuário, saúde, doença, prosperidade, e adversidade. Nós o amamos como a fonte de toda a bondade; e o reverenciamos como ser sublime, que sonda os rins e prova os corações dos filhos dos homens.
  2. Cremos que Jesus Cristo é o Filho e imagem do Pai - que Nele habita toda a plenitude da divindade, e que somente por Ele conhecemos o Pai. Ele é nosso mediador e advogado; não há nenhum outro nome debaixo do céu pelo qual devamos ser salvos. Somente em Seu nome rogamos ao Pai, não usando nenhuma outra súplica além daquelas contidas nas Sagradas Escrituras, ou tais que estejam substancialmente de acordo com Elas.
  3. Cremos no Espírito Santo como o Consolador, procedente do Pai e do Filho; pela inspiração de quem somos ensinados a orar; sendo por Ele renovados no espírito de nossas mentes; que nos recria em boas obras, e de quem recebemos o conhecimento da verdade.
  4. Cremos que há uma só santa igreja, incluindo toda a assembléia dos eleitos e fiéis, que têm existido desde o início do mundo, ou que irão existir até o seu final. O Senhor Jesus Cristo é o cabeça desta igreja - ela é governada por Sua palavra e guiada pelo Espírito Santo. É benéfico a todos os Cristãos que tenham comunhão na igreja. Por ela Ele [Cristo] intercede incessantemente, e Sua oração por ela é mais aceitável a Deus, sem o que em verdade não poderia haver salvação.
  5. Sustentamos que os ministros da igreja devem ser irrepreensíveis tanto na vida quanto na doutrina; e se encontrados diferentemente, [sustentamos] que devem ser destituídos em seu ofício, e outros devem tomar seu lugar; [sustentamos] que nenhuma pessoa deve conjeturar tomar esta honra sobre si mesmo, mas somente aquele que é chamado por Deus como foi Arão - [sustentamos] que os deveres destes tais são alimentar o rebanho de Deus, não pelo desejo de imundo lucro, ou como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas como sendo exemplos para o rebanho, em palavra, em conversação, em caridade, em fé, e em castidade.
  6. Reconhecemos que reis, príncipes, e governadores, são designados e estabelecidos como ministros de Deus, aos quais somos compelidos a obedecer [em todas as questões legais e civis]. Porque trazem a espada para defesa do inocente, e a punição dos agentes do mal; por esta razão somos compelidos a lhes honrar e pagar tributo. Deste poder e autoridade, nenhum homem pode se isentar uma vez que é manifesto o exemplo do Senhor Jesus Cristo, que voluntariamente pagou tributo, nunca tomando sobre si mesmo qualquer jurisdição de poder temporal.
  7. Cremos que a ordenança do batismo em água é o sinal visível e externo, que representa aquilo que, pela virtude da operação invisível de Deus, está em nosso interior - a saber, a renovação de nossas mentes, e a mortificação de nossos membros através [da fé em] Jesus Cristo. E por esta ordenança somos recebidos na santa congregação do povo de Deus, previamente professando e declarando nossa fé e mudança de vida.
  8. Sustentamos que a Ceia do Senhor é uma comemoração dos (e ação de graças pelos) benefícios que temos recebido por Seus sofrimentos e morte - e que é para ser recebida em fé e amor - examinando-nos a nós mesmos, para que possamos comer daquele pão e beber daquele cálice, como está escrito nas Sagradas Escrituras.
  9. Mantemos que o casamento foi instituído por Deus. Que é santo e honrado, e não deve ser proibido a ninguém, contanto que não haja nenhum obstáculo proveniente da divina palavra.
  10. Afirmamos que todos aqueles em quem habita o temor de Deus, serão por meio deste [temor] levados a agradá-lo, e a abundar nas boas obras [do evangelho] as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas - que são amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, gentileza sobriedade, e as outras boas obras impostas nas Sagradas Escrituras.
  11. Por outro lado, confessamos que consideramos ser nosso dever nos guardarmos dos falsos mestres, cujo objetivo é desviar as mentes dos homens da verdadeira adoração a Deus, e levá-los a colocar sua confiança na criatura, bem como se desviar das boas obras do evangelho, e considerar as astúcias dos homens.
  12. Tomamos o Velho e o Novo Testamento como regra para nossa vida, e estamos de acordo com a confissão geral de fé contida no [que é usualmente chamado de] Credo Apostólico.
OS CÂNONES DE DORDT - 1619 dC.
Segundo Ponto Principal de Doutrina

A Morte de Cristo e a Redenção Humana Através Dela

Artigo 1: A Punição Que a Justiça de Deus Requer
Deus não é somente supremamente misericordioso, mas é também supremamente justo. Sua justiça requer (como ele tem revelado de si mesmo na Palavra) que os pecados que cometemos contra sua infinita majestade sejam punidos com punições tanto temporais quanto eternas, da alma bem como do corpo. Nós não podemos escapar destas punições a menos que seja dada satisfação à justiça de Deus.

Ex.34:6-7; Rm.5:16; Gl.3:10

Artigo 2: A Satisfação Dada por Cristo
Entretanto, já que nós mesmos não podemos dar esta satisfação ou nos libertar da ira de Deus, Deus em sua infinita misericórdia nos deu como garantia o seu Filho unigênito, que foi feito pecado e maldição por nós, em nosso lugar, na cruz, de modo a poder dar satisfação por nós.

Jo.3:16; Rm.5:8; II Co.5:21; Gl.3:13

Artigo 3: O Infinito Valor da Morte de Cristo
A morte do Filho de Deus é sacrifício único e inteiramente completo, e satisfação pelos pecados; é de valor e merecimento infinitos, mais que suficiente para reconciliar os pecados de todo o mundo.

Hb.9:26,28; Hb.10:14; I Jo.2:2

Artigo 4: Razões para este Valor Infinito
Esta morte é de tal valor e merecimento por que a pessoa que a sofreu foi — como foi necessário que nosso Salvador fosse — não somente um homem verdadeiramente e perfeitamente santo, mas também o unigênito Filho de Deus, da mesma eterna e infinita essência com o Pai e o Espírito Santo. Outra razão é que sua morte foi acompanhada pela experiência da ira e da maldição de Deus, das quais nós, por nossos pecados, somos completamente merecedores.

Hb.4:15; Hb.7:26; I Jo.4:9; Mt.27:46

Artigo 5: A Ordem de Proclamar o Evangelho a Todos
Além disso, é promessa do evangelho que todo aquele que crer no Cristo crucificado não perecerá, mas terá a vida eterna. Esta promessa, juntamente com o mandamento de arrepender-se e crer, deve ser anunciada e declarada sem diferenciação ou discriminação a todas as nações e povos, a quem Deus em seu bom propósito enviar o evangelho.

Jo.3:16; I Co.1:23; Mt.28:19; At.2:38; At.16:31

Artigo 6: A Responsabilidade dos Homens Descrentes
Contudo, o fato de que muitos dos que têm sido chamados pelo evangelho não se arrependem ou crêem em Cristo, mas perecem em descrença, não significa que o sacrifício de Cristo oferecido na cruz seja deficiente ou insuficiente, mas sim que eles próprios estão em falta.

Mt.22:14; Sl.95:11; Hb.4:6

Artigo 7: Fé, Dom de Deus
Mas, todos os que genuinamente crêem e são libertos e salvos, pela morte de Cristo, dos seus pecados e da perdição, recebem este favor somente pela graça de Deus — que a ninguém é devida — dada a eles em Cristo desde a eternidade.

II Co.5:18; Ef.2:8-9

Artigo 8: A Eficácia Salvífica da Morte de Cristo
Porque este foi o plano soberano e o mui gracioso desejo e intenção de Deus o Pai: que a eficácia vivificante e salvífica da preciosa morte de seu Filho operasse em todos os escolhidos, de modo que pudesse conceder-lhes fé justificadora e por meio dela os guiasse infalivelmente à salvação. Em outras palavras, foi vontade de Deus que Cristo através do sangue na cruz (pelo qual ele confirmou a nova aliança) deveria efetivamente redimir de todos os povos, tribos, nações, e línguas todos aqueles, e somente aqueles, que foram escolhidos desde a eternidade para salvação e que foram dados a ele pelo Pai; que ele deveria conceder-lhes fé (a qual, como os outros dons salvíficos do Espírito Santo, ele adquiriu para eles por sua morte); que ele deveria limpá-los através do seu sangue de todos os seus pecados, tanto originais quanto presentes, quer cometidos antes quer depois de sua vinda à fé; que ele deveria preservá-los fielmente até o final; e que ele deveria finalmente apresentá-los a si mesmo, como povo glorioso, sem mácula nem ruga.

Jo.17:9; Ef.5:25-27; Lc.22:20; Hb.8:6; Ap.5:9; I Jo.1:7; Jo.10:28; Ef.5:27

Artigo 9: O Cumprimento do Plano de Deus
Este plano, procedendo do eterno amor de Deus por seus escolhidos, tem sido poderosamente executado desde o princípio do mundo até o presente tempo, e será também levado a cabo no futuro, [pois] os portões do inferno procuram em vão prevalecer contra ele. Como resultado os escolhidos são reunidos em um [único rebanho], cada um em seu próprio tempo, e há sempre uma igreja de crentes edificada sobre o sangue de Cristo, uma igreja que firmemente ama, persistentemente cultua, e — aqui e em toda a eternidade — o louva como seu Salvador, aquele deu sua vida por ela na cruz, como um noivo por sua noiva.

Mt.16:18; Jo.11:52; I Re.19:18; Ef.5:25

A Corrupção Humana, a Conversão a Deus, e o Modo como Ocorre

Artigo 1: O Efeito da Queda na Natureza Humana
O homem originalmente foi criado à imagem de Deus e foi provido em sua mente com o verdadeiro e salutar conhecimento de seu Criador e das coisas espirituais, em sua vontade e coração com justiça, e em todas as suas emoções com pureza; de fato, todo o homem era santo. Contudo, rebelando-se contra Deus, pela instigação do Diabo, e por sua própria livre vontade, ele despojou a si mesmo destes destacados dons. Mais propriamente, em seu lugar trouxe sobre si mesmo cegueira, terrível escuridão, futilidades, e distorção de julgamento em sua mente; perversidade, rebeldia, e dureza em seu coração e em sua vontade; e finalmente impureza em todas as suas emoções.

Gn.1:26-27; Gn.3:1-7; Ef.4:17-19

Artigo 2: O Espalhar da Corrupção
O homem após a queda produziu filhos com a mesma natureza que a sua. O que quer dizer que, sendo corrupto produziu filhos corrompidos. A corrupção se espalhou, pelo justo julgamento de Deus, de Adão a todos os seus descendentes — excetuando somente a Cristo — não por meio de imitação (como em tempos anteriores entenderam os Pelagianos), mas por meio da propagação de sua natureza pervertida.

Jó 14:4; Sl.51:7; Rm.5:12; Hb.4:15

Artigo 3: Completa Inaptidão
Conseqüentemente, todas as pessoas são concebidas em pecado e nascem como filhas da ira, inadequadas para efetuar qualquer ação salvadora, inclinadas ao mal, mortas em pecados, e escravas do pecado; sem a graça do regenerador Espírito Santo elas não estão nem dispostas, nem são capazes de retornar a Deus, de transformar sua natureza distorcida, ou mesmo de preparar a si mesmas para tal transformação.

Ef.2:1,3; Jo.8:34; Rm.6:16-17; Jo.3:3-6; Tt.3:5

Artigo 4: A insuficiência da Luz da Natureza
Há, é verdade, certa luz de natureza ainda restante no homem depois da queda, e pela virtude dela ele retém algumas noções sobre Deus, sobre as coisas naturais, entende a diferença entre o que é moral e o que é imoral, e demonstra certa ânsia por virtude e por um bom comportamento exterior. Mas esta luz de natureza está longe de habilitar o homem a alcançar um conhecimento salvífico de Deus e a uma conversão a ele — tão longe, em verdade, que o homem não a usa corretamente nem mesmo em questões da natureza e da sociedade. Ao invés disto, de várias maneiras ele distorce completamente esta luz, tudo quanto é o seu preciso caráter, e a suprime em injustiça. E assim fazendo apresenta-se indesculpável diante de Deus.

Rm.1:18-20; At.2:14-15

Artigo 5: A Inadequação da Lei
A este respeito, o que é verdade para a luz da natureza é também verdade para os Dez Mandamentos que foram dados por Deus através de Moisés especificamente aos Judeus. Uma vez que o homem não pode obter graça salvadora através do Decálogo, porque, apesar dele expor a magnitude do seu pecado e progressivamente o convencer da sua culpa, no entanto, não oferece um remédio ou o habilita a escapar de sua miséria, e, em verdade, enfraquecido como está pela carne, deixa o ofensor sob a maldição.

Rm.3:19-20; Rm.7:10-13; Rm.8:3; II Co.3:6-7

Artigo 6: O Poder Salvífico do Evangelho
O que, entretanto, nem a luz da natureza nem a lei podem fazer, Deus realiza pelo poder do Espírito Santo, através da Palavra, ou seja, do ministério de reconciliação. Este é o evangelho do Messias, através do qual Deus se agradou em salvar os crentes, tanto no Velho quanto no Novo Testamento.

II Co.5:18-19; I Co.1:21

Artigo 7: A Soberania de Deus em Revelar o Evangelho
No Antigo Testamento, Deus revelou este mistério da sua vontade a um pequeno número [de pessoas]; no Novo Testamento (agora sem qualquer distinção entre pessoas) ele o revela a um grande número [de pessoas]. A razão para esta diferença não deve ser atribuída ao maior merecimento de uma nação sobre outra, ou a um melhor uso da luz da natureza, mas ao soberano bom propósito e ao imerecido amor de Deus. Conseqüentemente, aqueles que recebem tamanha graça, além e apesar de tudo que merecem, devem reconhecê-la com humildade e com corações gratos; e por outro lado, com o apóstolo devem respeitar (e certamente não em uma busca inquisitiva) a severidade e a justiça do julgamento de Deus sobre os outros, que não receberam esta graça.

Ef.1:9; Ef.2:14; Cl.3:11; Rm.2:11; Mt.11:25-26; Rm.11:22-23; Ap.16:7; Dt.29:29

Artigo 8: O Sério Chamado do Evangelho
Não obstante, todos os que são chamados através do evangelho são chamados seriamente. Porque seriamente e muito genuinamente Deus faz conhecida na sua Palavra o que lhe agrada: que aqueles que são chamados venham a ele. Seriamente ele também promete descanso para as suas almas e vida eterna a todos os que vêm a ele e crêem.

Is.55:1; Mt.22:4; Ap.22:17; Jo.6:37; Mt.11:28-29; Fl.1:29

Artigo 9: A Responsabilidade Humana por Rejeitar o Evangelho
O fato de que muitos dos que são chamados através do ministério do evangelho não vêm e não são trazidos à conversão não deve ser atribuído ao evangelho, nem a Cristo, que é oferecido através do evangelho, nem a Deus, o qual os chama através do evangelho e até mesmo lhes confere vários dons, mas às próprias pessoas que são chamadas. Alguns em autoconfiança nem mesmo acolhem a Palavra da vida; outros a acolhem, mas não a colocam no coração, e por esta razão, após a alegria transitória de uma fé temporária, eles recaem; outros sufocam a semente da Palavra com os espinheiros dos cuidados da vida e com os prazeres do mundo e não produzem frutos. Isto nosso Salvador ensina na parábola do semeador (Mt.13).

Mt.11:20-24; Mt.13:1-23; Mt.22:1-14; Mt.23:3

Artigo 10: A Conversão Como um Trabalho de Deus
O fato de que outros dos que são chamados através do ministério do evangelho vêm e são trazidos à conversão não deve ser creditado ao homem, como se alguém, por sua livre escolha, distinguisse a si mesmo dos outros que são favorecidos com igual ou suficiente graça para fé e conversão (como a orgulhosa heresia de Pelágio sustenta). Não, isto deve ser creditado a Deus: exatamente como da eternidade escolheu os seus em Cristo, assim no tempo efetivamente os chama, lhes concede fé e arrependimento, e, tendo-os resgatado do domínio das trevas, os traz para o reino de seu Filho; de modo que eles possam declarar os maravilhosos feitos daquele que os chamou das trevas para esta maravilhosa luz, e possam gloriar-se, não em si mesmos, mas no Senhor, como as palavras apostólicas frequentemente testificam nas Escrituras.

Rm.9:16; Cl.1:13; Gl.1:4; I Pe.2:9; I Co.1:31; II Co.10:17; Ef.2:8-9

Artigo 11: A Obra do Espírito Santo na Conversão
Além disso, quando Deus executa seu bom propósito em seus escolhidos, ou seja, quando opera a verdadeira conversão neles, não só cuida para que o evangelho lhes seja proclamado e que as suas mentes sejam poderosamente iluminadas pelo Espírito Santo de modo a que possam corretamente entender e discernir as coisas do Espírito de Deus, mas, pela efetiva operação do mesmo Espírito regenerador, ele também penetra no mais íntimo do ser humano, abre o coração fechado, amolece o coração duro e circuncida o coração que é incircunciso. Ele infunde novas qualidades na vontade, fazendo da vontade morta, viva, do maldoso, bom, do relutante, disposto, e do obstinado, submisso; ele ativa e fortalece a vontade para que, como uma boa árvore, possa ser capaz de produzir os frutos de boas obras.

Hb.6:4-5; I Co.2:10-14; Hb.4:12; At.16:14; Dt.30:6; Ez.11:19; Ez.36:26; Mt.7:18

Artigo 12: Regeneração, uma Obra Sobrenatural
E esta é a regeneração, a nova criação, a ressurreição dos mortos, e a vivificação, tão claramente proclamadas nas Escrituras, as quais Deus opera em nós sem nossa ajuda. Mas, isto certamente não acontece somente por ensino material, por persuasão moral, ou de tal maneira que após Deus ter feito sua obra, continua em poder do homem [a capacidade de decidir] se ele vai ou não ser renascido ou convertido. Ao contrário, é uma obra inteiramente sobrenatural, obra que é ao mesmo tempo poderosíssima e agradabilíssima, uma maravilha, misteriosa, e indescritível, que não é menor ou inferior em poder àquela da criação ou da ressurreição dos mortos, como a Escritura (inspirada pelo autor desta obra) ensina. Como resultado, todos aqueles em cujos corações Deus opera deste modo admirável são certamente, infalivelmente, e efetivamente renascidos e verdadeiramente crêem. E então a [sua] vontade, agora renovada, não é somente ativada e motivada por Deus, mas ao ser ativada por Deus torna-se ativa em si mesma. Por esta razão, o próprio homem, através desta graça que recebeu, também diz corretamente que creu e se arrependeu.

Jo.3:3; II Co.4:1-6; II Co.5:17; Ef.5:14; Jo.5:25; Rm.4:17; Fl.2:13

Artigo 13: O Incompreensível Mecanismo da Regeneração
Nesta vida os crentes não podem entender completamente o mecanismo pelo qual esta obra ocorre; entretanto, eles ficam satisfeitos em saber e experimentar que por esta graça de Deus eles creram em seu Salvador com o coração e com amor.

Jo.3:8; Rm.10:9

Artigo 14: O Modo como Deus Dá Fé
Deste modo, portanto, fé é um dom de Deus, não no sentido de que é oferecida por Deus para que o homem a escolha, mas que é de fato aplicada ao homem, inspirada e infundida nele. Nem é um dom no sentido de que Deus confere somente o potencial para crer, e então espera assentimento — o ato de crer — de acordo com a escolha do homem; ao contrário, é um dom no sentido de que aquele que opera tanto o querer quanto o efetuar, e em verdade opera todas as coisas em todas as pessoas, produz no homem tanto o querer crer quanto o próprio [ato de] crer.

Ef.2:8; Fl.2:13

Artigo 15: Respostas à Graça de Deus
Esta graça Deus não deve a ninguém. Pois o que Deus poderia dever a alguém que não tem nada para dar que possa ser devolvido? Em verdade, o que Deus poderia dever a alguém que não tem nada de seu além de pecado e falsidade? Por esta razão a pessoa que recebe a graça deve e [de fato] rende eterna gratidão somente a Deus; a pessoa que não a recebe, ou de todo não liga para estas coisas espirituais e está satisfeita consigo mesma nesta condição, ou então em autoconfiança exulta tolamente de que é pouco o que lhe falta. Além disso, seguindo o exemplo dos apóstolos, nós devemos pensar e falar do modo mais favorável sobre aqueles que externamente professam sua fé e melhoram suas vidas, porque a câmara interior do coração nos é desconhecida. Mas, pelos outros, que ainda não foram chamados, nós devemos orar a Deus que chama coisas que não existem à existência. Todavia, de modo algum, devemos nos assoberbar como se fossemos melhores que eles, como se nós tivéssemos distinguido a nós mesmos deles.

Rm.11:35; Am.6:1; Jr.7:4; Rm.14:10; Rm.4:17; I Co.4:7

Artigo 16: Efeito da Regeneração
Porém, tal como pela queda o homem não deixou de ser homem, dotado de intelecto e vontade, e tal como o pecado, que foi propagado a toda a raça humana, não aboliu a natureza da raça humana, mas a distorceu e a matou espiritualmente, assim também esta graça divina da regeneração não age nas pessoas como se elas fossem tijolo e cimento; nem anula a vontade e suas propriedades ou coage uma vontade relutante pela força, mas revive espiritualmente, cura, reforma, e — de uma forma ao mesmo tempo prazerosa e poderosa — a converte. Como resultado, uma obediência pronta e sincera ao Espírito agora começa a prevalecer onde antes a rebelião e a resistência da carne foram completamente dominantes. É nisto que a verdade e a restauração espiritual e a liberdade da nossa vontade consistem. Desta forma, se o maravilhoso Criador de todas as boas coisas não estivesse lidando conosco, o homem não teria esperança de se levantar de sua queda por sua própria livre escolha, através da qual ele mergulhou a si mesmo em ruína, quando ainda estava em pé.

Rm.8:2; Ef.2:1; Sl.51:12; Fl.2:13

Artigo 17: O Uso de Deus dos Mecanismos de Regeneração
Tal como a poderosa obra de Deus pela qual ele faz brotar e sustenta nossa vida natural, não exclui, mas requer o uso de meios pelos quais Deus, de acordo com sua infinita sabedoria e bondade, tem exercitado seu poder, assim também a obra de Deus citada anteriormente, pela qual ele nos restaura, de modo algum exclui ou cancela [a necessidade] do uso do Evangelho, o qual Deus em sua grande sabedoria designou para ser a semente da regeneração e o alimento da alma.

Por esta razão, os apóstolos e os professores que piedosamente os seguiram ensinavam ao povo sobre esta graça de Deus, para dar glória a ele e para humilhar todo o orgulho humano; não negligenciando, neste meio tempo, o manter o povo através das santas admoestações do evangelho, sob a ministração da Palavra, das coisas sagradas, e da disciplina. Assim, mesmo hoje, está fora de questão que os professores ou os que são ensinados na igreja conjeturarem testar Deus separando o que ele, em seu bom propósito, deseja que esteja estritamente unido. Porque a graça é concedida através das admoestações, e quanto mais prontamente nós fizermos nosso dever, usualmente, tanto mais resplandecerão em nós os benefícios da obra de Deus e melhor sua obra [em nós] avançará. A ele somente, tanto pelos meios quanto por seus frutos salvíficos e [por sua] efetividade, toda a glória seja devida eternamente. Amém.

Is.55:10-11; I Co.1:21; Tg.1:18; I Pe.1:23,25; I Pe.2:2; At.2:42; II Co.5:11-21; II Tm.4:2; Rm.10:14-17; Jd.24-25

Rejeição de Erros (III/IV)

Tendo sido exposta a doutrina ortodoxa, o Sínodo rejeita os erros daqueles que:

I

Ensinam que, propriamente falando, não pode ser dito que o pecado original em si é o bastante para condenar toda a raça humana ou para garantir punição temporal e eterna.

Porque eles contradizem o apóstolo quando diz: Como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram (Rm.5:12); também: Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação (Rm.5:16); igualmente: O salário do pecado é a morte (Rm.6:23).

II

Ensinam que os dons espirituais ou as boas inclinações e virtudes, tais como a bondade, a santidade, e a justiça podem não ter residido na vontade do homem quando ele foi primeiramente criado e, portanto, não poderiam ter sido separadas da [sua] vontade na queda.

Porque isto entra em conflito com a descrição do apóstolo da imagem de Deus em Efésios 4:24, onde ele retrata a imagem em termos de justiça e santidade, as quais definitivamente residem na vontade.

III

Ensinam que na morte espiritual os dons espirituais não foram separados da vontade do homem, uma vez que a vontade em si nunca teria sido corrompida, mas somente impedida pelas trevas da mente e pelo desgoverno das emoções. E como a vontade seria capaz de exercitar sua capacidade inata livremente desde que estes impedimentos fossem removidos. O que quer dizer, que ela seria capaz, por si mesma, de desejar ou escolher o que de bom é colocado diante dela — ou ainda de não desejá-lo ou escolhê-lo.

Esta é uma nova idéia e um erro e tem o efeito de ao elevar o poder da livre escolha, contrariar as palavras de Jeremias o profeta: Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso (Jr.17:9); e as palavras do apóstolo: Entre os quais (os filhos da desobediência) todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos (Ef.2:3).

IV

Ensinam que o homem não regenerado não está estritamente ou totalmente morto em seus pecados e [não] está privado de toda a capacidade para fazer o bem espiritual, mas é capaz de sentir fome e sede de justiça ou de vida, e de oferecer o sacrifício de um espírito quebrantado e contrito, o qual é agradável a Deus.

Porque estes pontos de vista são opostos ao claro testemunho das Escrituras: Estando vós mortos em ofensas e pecados (Ef.2:1, 5); A imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente (Gn.6:5; 8:21). Além disto, ter fome e sede por libertação da miséria e por vida, e o oferecer a Deus em sacrifício um espírito quebrantado são características somente dos regenerados e daqueles chamados bem-aventurados (Sl.51:17; Mt.5:6).

V

Ensinam que o homem natural e corrompido pode fazer um tão bom uso da graça comum (pelo que eles querem dizer a luz da natureza) ou dos dons restantes após sua queda que é capaz por meio disto de gradualmente obter uma graça maior — a graça evangélica ou salvífica — bem como a própria salvação; e que deste modo Deus, de sua parte, se mostra pronto a revelar Cristo a todas as pessoas, uma vez que ele provê para todos, em quantidade suficiente e de modo efetivo, os meios necessários para a revelação de Cristo, por fé, e por arrependimento.

Porque a Escritura, para não mencionar a experiência de todas as épocas, testifica que isto é falso: [Deus] mostra a sua palavra a Jacó, os seus estatutos e os seus juízos a Israel. Não fez assim a nenhuma outra nação; e quanto aos seus juízos, não os conhecem (Sl.147:19-20); O qual nos tempos passados deixou andar todas as nações em seus próprios caminhos (At.14:16); [Paulo e seus companheiros] foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia. E, quando chegaram a Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o Espírito não lho permitiu (At.16:6-7).

VI

Ensinam que na verdadeira conversão do homem novas qualidades, inclinações, ou dons não podem ser infundidos ou derramados sobre a sua vontade por Deus. E, em verdade, a fé, ou o crer, pelo qual nós primeiro viemos à conversão e pelo qual recebemos o nome de "crentes" não é uma qualidade ou dom dado por Deus, mas somente um ato humano, e que não pode ser chamado de dom exceto no que diz respeito ao poder de alcançar fé.

Porque estes pontos de vista contradizem as Sagradas Escrituras, as quais testificam que Deus infunde ou derrama nos nossos corações as novas qualidades de fé, obediência, e a experiência do seu amor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração (Jr.31:33); derramarei água sobre o sedento, e rios sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade (Is.44:3); o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm.5:5). Eles também entram em conflito com a contínua prática da Igreja, que ora com o profeta: converte-me, e converter-me-ei, porque tu és o SENHOR meu Deus (Jr.31:18).

VII

Ensinam que a graça pela qual somos convertidos a Deus não é nada mais do que uma gentil persuasão, ou (como outros a explicam) a forma de Deus agir na conversão do homem, a qual é a mais nobre e apropriada à natureza humana, é aquela que acontece através da persuasão, e nada impede que esta graça de convencimento moral possa, por si só, tornar os homens espirituais; em verdade, Deus não produz o consentimento da vontade exceto através de convencimento moral, e que a eficácia da obra de Deus através qual ele sobrepuja a obra de Satanás consiste em que Deus promete benefícios eternos enquanto Satanás promete benefícios temporais.

Porque este ensino é inteiramente Pelagiano, e contrário a toda a Escritura, que reconhece além da persuasão também outro meio, muito mais efetivo e divino pelo qual o Espírito Santo age na conversão do homem. Como Ezequiel 36:26 coloca: Dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne...

VIII

Ensinam que Deus ao regenerar o homem não ostenta aquele poder de sua onipotência com o qual ele pode poderosa e infalivelmente dobrar a vontade humana para a fé e a conversão. E que mesmo quando Deus já efetuou todas as operações da graça que ele usa para a conversão do homem, não obstante o homem pode assim resistir a Deus e ao Espírito em seu intento e vontade de regenerá-lo (e de fato frequentemente o faz), de modo que o homem completamente frustra seu próprio renascimento; e, de fato, permanece em seu próprio poder se será ou não regenerado.

Porque isto anula todo o efetivo funcionamento da graça de Deus em nossa conversão e sujeita a atividade do Deus Todo-Poderoso à vontade do homem; é contrário aos apóstolos, que ensinam que nós cremos pela virtude da efetiva ação da força do poder de Deus (Ef.1:19), e que Deus executa o imerecido bom propósito de sua bondade e a obra da fé em nós com poder (II Ts.1:11), e do mesmo modo que seu divino poder tem nos dado tudo que precisamos para vida e piedade (II Pe.1:3).

IX

Ensinam que a graça e a livre escolha são causas parciais simultâneas que cooperam para iniciar a conversão, e que a graça não precede — na ordem de causa e efeito — a efetiva influência da vontade; o que quer dizer, que Deus não ajuda efetivamente a vontade do homem a vir à conversão, antes a própria vontade do homem motiva e determina a si mesma.


Porque a igreja primitiva já condenou esta doutrina há muito tempo com os Pelagianos, com base nas palavras do apóstolo: Isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece (Rm.9:16); também: Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? (I Co.4:7); igualmente: Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade (Fl.2:13).
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